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Do devaneio ao foco: o que a meditação ensina ao cérebro

Atualizado: 15 de ago.


Fonte: arquivo pessoal
Fonte: arquivo pessoal

Carolina B. Menezes

Relato técnico-científico


Você já teve a sensação de que sua mente está sempre inquieta, pulando de pensamento em pensamento? A boa notícia é que a meditação pode, de fato, ajudar a silenciar esse fluxo constante de distrações mentais. Um estudo da Universidade de Emory, nos Estados Unidos, publicado na revista NeuroImage, mostrou como a prática da meditação modifica os padrões de ativação cerebral relacionados ao "mind wandering", ou devaneio mental.


O estudo utilizou a prática da meditação de atenção focada, ou seja, manter a atenção em um objeto específico (como a respiração), para investigar os ciclos naturais da mente entre foco e distração. Segundo os autores, o mind wandering está associado a estados mentais mais negativos e a dificuldades de concentração, sendo um componente importante de quadros como depressão ruminativa e TDAH. A pesquisa sugere que a meditação pode ser uma ferramenta para interromper esse ciclo.


Durante o experimento, 14 meditadores experientes, com pelo menos um ano de prática regular, foram instruídos a meditar focando na respiração enquanto seus cérebros eram escaneados por ressonância magnética funcional (fMRI). Sempre que percebiam que haviam se distraído, apertavam um botão. A partir disso, os pesquisadores identificaram quatro fases cognitivas distintas:


  1. Mind wandering (devaneio);

  2. Awareness (percepção da distração);

  3. Shift (redirecionamento da atenção);

  4. Focus (manutenção da atenção).


Cada uma dessas fases mostrou padrões distintos de ativação cerebral:


  • Durante o mind wandering, houve maior ativação na rede do modo padrão (DMN), incluindo o córtex pré-frontal medial e o giro do cíngulo posterior, regiões associadas a pensamentos autorreferenciais e devaneios.


  • Quando os praticantes percebiam que estavam distraídos, havia aumento de atividade na rede da saliência, com destaque para a ínsula anterior e o córtex cingulado anterior dorsal, regiões que detectam mudanças internas relevantes.


  • Ao redirecionar a atenção para a respiração, ativava-se a rede executiva, especialmente no córtex pré-frontal dorsolateral e em regiões parietais responsáveis pelo controle atencional.


  • Durante a manutenção do foco, a ativação no córtex pré-frontal dorsolateral permanecia elevada, sugerindo atividade contínua para sustentar a atenção.


Um achado particularmente interessante foi a associação entre tempo de prática de meditação e o nível de ativação cerebral. Quanto mais experiente o praticante, menor era a ativação no córtex pré-frontal ventromedial durante o redirecionamento da atenção. Essa região está relacionada a julgamentos e pensamentos autorreferenciais, sugerindo que a meditação treina o cérebro para retomar o foco com mais rapidez e menos esforço mental, sem se engajar em julgamentos como “não consigo meditar direito”.


Segundo os autores, a prática regular da meditação pode ensinar o cérebro a detectar distrações com mais agilidade, reagir menos aos conteúdos mentais e retornar ao foco de forma mais eficiente. Esses achados reforçam o valor da meditação não apenas como prática contemplativa, mas como um treinamento para a atenção, com benefícios potenciais para a saúde mental.


Referências:

Hasenkamp, W., Wilson-Mendenhall, C. D., Duncan, E., & Barsalou, L. W. (2012). Mind wandering and attention during focused meditation: A fine-grained temporal analysis of fluctuating cognitive states. NeuroImage, 59(1), 750–760. https://doi.org/10.1016/j.neuroimage.2011.07.008

 
 
 

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