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Segundo o dicionário Michaelis da Língua Portuguesa, a sensação é: a. Reação específica provocada por um estímulo externo ou interno, causando uma impressão sobre os órgãos dos nossos sentidos; b. Conhecimento intuitivo e geralmente imediato; c. Vivência significativa que desperta afetos e emoções conflitantes, emoção; d. Grande impressão, impacto ou surpresa devido a um acontecimento raro, incomum ou especial.

 

Na Psicologia, a sensação é compreendida como o processo de detecção de estímulos e transmissão de informações sensoriais através dos nossos órgãos dos sentidos: olhos, ouvidos, pele, nariz e língua. Cada um desses órgãos é sensível a diferentes estímulos físicos, e cada um contribui com informações diferentes através dos processos de visão, audição, tato, olfato e paladar. É através deles, portanto, que nós possuímos acesso direto ao mundo. 

 

Codificação Sensorial

 

A maneira pela qual os órgãos sensoriais traduzem as propriedades físicas de um estímulo em impulsos neurais se chama codificação sensorial. Diferentes aspectos do ambiente físico são codificados por diferentes impulsos neurais. Os neurônios especializados encontrados nos órgãos dos sentidos chamam-se receptores. Os receptores são divididos em duas categorias principais: exteroreceptores, que recebem estímulos sensoriais externos, e interoreceptores, que recebem estímulos sensoriais internos. O processo de codificação também é denominado transdução. 

 

A transdução pode ser quantitativa ou qualitativa. A quantitativa está relacionada a estímulos como intensidade, brilho e altura; possui maior frequência de descarga neural; e possui um maior número de neurônios acionados. A qualitativa está relacionada a estímulos como cor ou sabor; onde diferentes receptores respondem a diferentes qualidades de um estímulo; e realiza uma codificação mais simples.

 

Depois da transdução nos receptores, os neurônios nos órgãos dos sentidos transmitem informações para o cérebro na forma de impulsos neurais. A maioria das informações sensoriais vai primeiro ao tálamo, uma estrutura localizada no centro do cérebro. Os neurônios conectores do tálamo levam a informação até áreas específicas e especializadas do córtex, onde o cérebro interpreta esses impulsos neurais. Você pode compreender melhor como funciona o processo de interpretação desses impulsos no tópico Percepção.

 

Psicofísica e a mensuração das experiências sensoriais

 

A psicofísica estuda a intensidade dos estímulos físicos em relação à experiência perceptiva. Gustav Theodor Fechner (1801-1897) foi o pesquisador que cunhou o termo e desenvolveu os primeiros métodos de mensuração em psicofísica, muitos dos quais, ainda são utilizados. Um dos seus estudos mais relevantes foi em relação aos limiares, ou seja, a mensuração física de quanta estimulação os órgãos sensoriais precisam para que o estímulo seja detectável. Ele definiu o limiar absoluto como a intensidade mínima de estimulação para a experiência de uma sensação, e o limiar de diferença como a quantidade mínima de mudança necessária para a detecção de uma diferença no estímulo. 

 

Uma das principais características dos sistemas sensoriais é a sua habilidade de detectar mudanças no ambiente. Contudo, não conseguiríamos detectar tudo o tempo todo. Assim, existe o fenômeno da adaptação sensorial, em que a sensibilidade diminui com o passar do tempo, através de estímulos que se apresentam de forma contínua e repetida. As respostas dos sistemas sensoriais que o detectam tendem a diminuir no decorrer do tempo, pois do ponto de vista da seleção evolutiva, não é tão importante continuar respondendo a um estímulo que não se modifica, e que já foi avaliado anteriormente pelo cérebro como sendo seguro.

Os Cinco Sentidos Primários

 

Visão

 

A visão é a fonte de conhecimento mais importante para os seres humanos. O olho humano processa os estímulos como uma câmera, focalizando a luz para formar uma imagem na retina. O processo visual começa quando a luz é transduzida em impulsos elétricos por fotorreceptores presentes nos olhos. Na retina se encontram os bastonetes (especializados em visão noturna), e os cones (especializados na visão sob alta iluminação). Fotopigmentos são substâncias químicas sensíveis à luz, e iniciam a transdução das ondas de luz em impulsos elétricos que são levados por células ganglionares do nervo óptico, ou segundo nervo craniano, ao núcleo geniculado lateral, do tálamo, e posteriormente retransmitidos para o córtex visual no lobo occipital. 

Audição

 

O estímulo da audição são as ondas sonoras. As mudanças na pressão do ar que produzem ondas sonoras chegam no ouvido interno e viajam do canal auditivo até o tímpano, que vibra na presença delas. As ondas sonoras são codificadas pelos receptores das células auditivas ciladas sensíveis à pressão na cóclea do ouvido interno e se encaminham para o cérebro através do nervo auditivo ou oitavo nervo craniano.

 

A amplitude de uma onda sonora determina sua altura, com amplitudes maiores sendo percebidas como mais altas. A frequência de uma onda sonora determina o seu tom, com frequências maiores sendo percebidas como tendo um tom mais alto. A frequência do som é medida em vibrações por segundo, chamadas Hertz (Hz). Os humanos conseguem detectar ondas sonoras com uma frequência de 20-20.000 Hz. 

Olfato

 

O sentido do olfato, ou olfação, é responsável pela detecção e interpretação de odores no ambiente. As partículas de odor são compostos voláteis que estão presentes no meio, passam pelo nariz e pelas porções superior e posterior da cavidade nasal, o estímulo é então codificado por terminais sensíveis de neurônios olfatórios nas membranas mucosas e se encaminha para o cérebro através do nervo olfatório ou primeiro nervo craniano. Esses impulsos nervosos transmitem informações para o bulbo olfatório, o centro cerebral do olfato, logo abaixo dos lobos frontais. Diferentemente de outras informações sensoriais, os sinais do olfato vão diretamente para os centros olfativos no córtex cerebral, e não para o tálamo. São identificados milhares de receptores diferentes no epitélio olfatório, cada um responsivo a um grupo químico diferente. Ainda não foi esclarecido, porém, como os diferentes cheiros são codificados por esses receptores. No entanto, sabe-se que quanto maior for a quantidade dessas moléculas no ar, maior será a quantidade de estímulos transmitidos ao cérebro e consequentemente, maior a sensação e percepção do odor.

Paladar

 

O órgão responsável pelo paladar, ou gustação, é a língua. Na parte de cima da língua, existem pequenas elevações chamadas de botões ou papilas gustativas. Cada papila lingual é formada por um conjunto de células sensoriais microscópicas, os receptores gustativos estão presentes nas papilas gustativas e em outras áreas, incluindo a superfície superior da língua e a epiglote. O sentido do paladar recebe o estímulo de moléculas dissolvidas em fluido na língua, que é codificado nos botões gustativos, então as informações se encaminham para o cérebro através de porções de nervos facial, glossofaríngeo e vago, sétimo, nono e décimo nervos cranianos, respectivamente. O córtex gustativo é responsável pela percepção do paladar.

 

O sabor no sistema gustativo permite aos humanos distinguir entre alimentos seguros e prejudiciais. As dezenas de papilas linguais presentes na superfície da língua captam os cinco sabores primários, ou as cinco sensações gustatórias: doce, salgado, azedo ou ácido, amargo e umami. As papilas gustativas são capazes de distinguir entre diferentes sabores através da detecção de interação com diferentes moléculas ou íons. As sensações olfativas e gustativas possuem funções parceiras, o olfato influencia diretamente a salivação, e a estimulação do nervo trigêmeo registra a textura e a temperatura, por exemplo.
 

Tato

 

O sentido do tato transfere sensações de dor, temperatura e pressão. Os receptores desses estímulos são neurônios sensoriais que terminam na camada mais externa da pele, a epiderme. Os neurônios da dor não terminam em estruturas especializadas, são codificados por terminais sensíveis de neurônios na pele e em tecidos variados.  As informações codificadas se encaminham para o cérebro por longos axônios através do nervo trigêmeo, ou quinto nervo craniano.

 

A Teoria do Controle do portão defende que a intensidade da dor pode ser regulada por diferentes mecanismos localizados no sistema nervoso. De acordo com essa teoria, quando o sinal de dor é transmitido, ele deve passar por um moderador, ou porta, localizado ao nível da medula espinhal. O funcionamento desse moderador depende da ativação de diferentes tipos de fibras nervosas que podem aumentar ou diminuir a intensidade, ou até bloquear a passagem do sinal, impedindo que células receptoras de dor transmitam este sinal para o córtex. Isso implica que os estados mentais do indivíduo podem possuir influência direta na sua sensação de dor.

Outros sentidos

Existem outros sistemas sensoriais internos além dos cinco sistemas primários, e suas funções se baseiam em enviar mensagens para o cérebro sobre as condições corporais em dado momento. O sentido cinestésico, por exemplo, pode ser agrupado com os sentidos do tato, e refere-se a sensações de receptores em músculos, tendões e articulações que localizam a posição e os movimentos dos membros e corpo no espaço. Isso contribui na coordenação de movimentos voluntários, sendo fundamental para preservar o corpo de ferimentos. O sentido vestibular ou equilibratório se baseia em dados de receptores nos canais semicirculares do ouvido interno. Esses canais contêm um líquido que se move quando a cabeça se move, curvando células ciliadas nas extremidades do canal. A curvatura cria impulsos nervosos que nos informam da rotação da cabeça e, portanto, é responsável por um sentido de equilíbrio. 

 

Ainda existem outros sentidos sendo estudados na área, como os sentidos baseados em campos elétricos. Podemos compreender sistemas sensoriais que utilizam sonar ou campos elétricos para navegação estudando principalmente os sistemas sonares de animais como morcegos e golfinhos. Esses animais produzem um chamado e então respondem aos ecos desse chamado. A eletrorrecepção funciona de maneira semelhante: alguns peixes emitem um campo elétrico e depois analisam perturbações nesse campo, para evitar predadores ou encontrar uma presa. 

Referências 

 

Gazzaniga, Michael S.; Heartherton, Todd F. (2017). Ciência Psicológica: mente, cérebro e  comportamento. Porto Alegre: Artmed. 

 

Matlin, M. W. (2004). Psicologia cognitiva. Rio de Janeiro: LTC. ISBN 852161392X. Número de chamada: 159.95 M433p 5.ed. 

 

Sternberg, R. J. (2008). Psicologia cognitiva. 4. ed. Porto Alegre: Artes Médicas. ISBN 9788536311159. Número de chamada: 159.95 S839p 4.ed.

Materiais Complementares

Livros

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O que o cérebro tem para contar, V. S Ramachandran

Desvendando os mistérios da natureza humana

Nesse livro, V.S. Ramachandran investiga casos neurológicos surpreendentes. Além de proporcionar ao leitor uma incrível turnê pela neurociência e por seus avanços recentes, o autor revela o que esses casos incomuns podem nos ensinar sobre o cérebro normal e sua evolução, chegando a revelações inéditas sobre os mistérios da nossa mente.

Artigos

Redes de memória olfativa: da aprendizagem emocional aos comportamentos sociais 

Os odores são estímulos poderosos que podem evocar estados emocionais e apoiar o aprendizado e a memória. Esse estudo engloba as seguintes seções: olfato humano, preferências e aversões a odores, odores e comportamento social, olfato e memória olfativa.

What can you do with your nose? 

Artigo clássico, a partir dele se iniciaram estudos abrangentes sobre a importância do olfato, até então negligenciado em relação aos outros sentidos.

 

Olfactory interference on the emotional processing speed of visual stimuli: The influence of facial expressions intensities

 

Pesquisas sobre estimulação olfativa indicam que ela pode influenciar a cognição e o comportamento humano, como na percepção das expressões faciais. Os odores podem facilitar ou prejudicar a identificação das expressões faciais, e o presente estudo explora o papel que o fator desempenha em tais expressões.

Sites & Reportagens

Sinestesia: entenda o que é e leia relatos de quem a possui, no Viva Bem UOL

Pessoas com sinestesia enxergam mulheres douradas, sentem o gosto da quinta-feira

ou cheiram sua música favorita

Are we all born with a talent for synaesthesia, in Aeon Magazine

A circus of the senses: It makes letters colourised and numbers pulsate with cosmic time,

a rare gift, or are we all on the synaesthetic spectrum?

Documentários & Filmes

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Vídeos

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Bebes em foco

A série documental acompanha o cotidiano de 15 bebês para tentar entender como funciona o desenvolvimento humano desde o nascimento até o primeiro ano de vida. No episódio 03, da segunda temporada, especialistas tentam compreendem como os bebês exploram os sentidos em uma jornada sensorial que se estabelece como uma marco para o resto de suas vidas.

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Corpo humano: nosso mundo interior

Diversas histórias pessoais de todo o mundo revelam como vidas, paixões e objetivos são facilitados pelos vários sistemas complexos do corpo humano. No episódio 05, conhecemos os casos de uma cantora com deficiência auditiva, uma criadora de fragrâncias, e uma dupla de patinadores, que dependem do poder dos sentidos para suas composições.

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Janela da alma
 
O documentário apresenta pessoas com diferentes graus de deficiência visual, da miopia discreta à cegueira total, que narram como se veem, como veem os outros e como percebem o mundo. Eles ainda fazem revelações pessoais e inesperadas sobre vários aspectos relativos à visão: o funcionamento fisiológico do olho, o uso de óculos e suas implicações sobre a personalidade, o significado de ver ou não ver em um mundo saturado de imagens, e também a importância das emoções como elemento transformador da realidade. 

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À primeira vista 
 
O filme conta a história de um casal que passa por desafios constantes devido a condição de um deles, que ficou cego durante a infância. Este, realiza uma operação radical para restaurar sua visão, através de um novo tratamento experimental, e é operado com sucesso. Ele recomeçará tudo de novo, aprendendo mais uma vez a enxergar a luz do dia e o mundo a sua volta.

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The Silent Child 
 
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Sound of Metal

O filme conta a história de vida de um músico que perde o sentido da audição e precisa reaprender o seu senso de identidade e a se comunicar com o mundo.

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How Smell Guides Our Inner World, in Quanta Magazine

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